Por Lucas Sarah
Sempre fui muito tímido, tinha vergonha de estar em público, de cumprimentar as pessoas, de comer no intervalo da escola. Um dia, na minha pré-adolescência, fui convidado para fazer parte de um grupo de teatro, mas só de ouvir o convite, pensei que isso não é pra mim, pois teatro era chato. Comecei a me tornar um adolescente tímido com muito medo de falar em público.
Um dia minha mãe me incentivou a ir ao ensaio, mas fiquei com tanta vergonha que não consegui entrar. Na semana seguinte, entrei e justamente naquele dia, tive que improvisar junto com outros uma cena. Meu coração bateu rápido, na hora de interpretar um filho rebelde descobri que era aquilo caminho que queria trilhar, me empolguei encenando, fui elogiado pelo líderes do grupo. Desde aquele dia não sei mais o que é timidez.
Dois anos depois comecei a sentir que teatro não era pra ser feito apenas em quatro paredes, seja nos palcos, em igrejas, a arte precisava ultrapassar fronteiras. Foi quando comecei com o Teatro Águia, uma equipe formada por mim, minha mãe e minha irmã. Melhor do que fazer teatro, é contracenar com sua própria família. Em novembro de 2009, a Igreja católica promovia um almoço para quem vive em situação de rua na Praça da Bandeira, centro de Belém, nós procurávamos um evento de jovens, nos perdemos e paramos lá.
Eu gostei tanto daquilo que parei junto com os meu amigos assistindo, minha mãe que também faz parte do grupo, perguntou aos responsáveis se não podíamos apresentar, encenamos e cada cena chamava a atenção deles como se fosse a primeira vez vendo uma peça. De lá pra cá foram muitas apresentações em praças, esquinas de rua e principalmente em pontos da cidade com muita concentração de quem vive na rua, como Ver-o-Peso, Praça do Operário, Avenida Presidente Vargas e outro lugares.
Nossa temática principal é falar de realidade deles, por isso falamos sobre drogas, prostituição, suicídio, mensagens de esperança e evangelização. Todas as vezes que fazemos cena de overdose, quando me fantasio do mal, ou do bem. Isso envolve todos de uma forma que não tem como explicar. Todos param o que estão fazendo e surge pessoas que você nem sabia que estavam por ali próximas. Após a apresentação fazemos uma reflexão sobre o tema destacado.
Em uma cena que falávamos de fé e esperança, me fantasiei de Jesus e fui abraço por um senhor que estava alterado e me apertava como se eu fosse o próprio Cristo. Nos intervalos entre as peças, muitos procuram a gente para desabafar, falar da sua vida. Nunca esqueci de um senhor chamado de “Ceará”, que tinha família, tinha um bom emprego, mas acabou indo parar nas ruas, não por drogas ilícitas, ou por que perdeu tudo, mas por ter se tornado alcoólico.
Praticamente todas as apresentações que fizemos desde 2009 foram gravadas, no Youtube, os mais de 2 mil vídeos ultrapassam a marca de 1 milhão e meio de acessos. São mais de 200 espetáculos originais, peças que eu escrevi vendo filmes, observando uma situação, debatendo com alguém.
Graças ao Teatro eu melhorei meu desempenho na escola, me destaquei fazendo trabalhos criativos, seminários que imitavam verdadeiros “Talk Shows” e quadros de televisão. No ensino médio, criei a Tv Águia que mostrava os bastidores de uma escola pública de Belém, foi daí que tomei a decisão de cursar ao jornalismo.
Mais de 10 anos depois de ter entrado naquele ensaio de um grupo de teatro, posso dizer que minha vida tomou outro rumo, me tornei outra pessoa que tem facilidade pra falar em público, que sabe a importância de praticar a arte em prol da sociedade e me tornei um universitário de comunicação, justamente, aquilo que era o meu maior problema. Esse sou eu e tenho orgulho de assumir isso
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